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TUDO SOLTO E MISTURADO


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Crença.

[...]Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro







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Desejo compartilhado.

Posso até aproveitar-me de tua carencia para realizar meu desejo lascivo.
Alimento então meu corpo.
Mas meu desejo só é plenamente realizado quando apreciado por ti.
Mesmo enquanto desejo da carne.
Assim fico virtuosamente saciada.
Alimento meu corpo e minha alma.

Profunda Clarice.

'a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la' p.10

'Ontem no entanto perdi durante horas e horas minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação a: ser? (...) Mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo?Terei que  correr o sagrado risco do acaso' p. 11.

'Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir.Mas, quando eu estava presa, estava contente?' p.11

'Cedo fui obrigada a reconhecer, sem lamentar, os esbarros de minha pouca inteligência, e eu desdizia o caminho. Sabia que estava fadada a pensar pouco, raciocinar me restringia dentro de minha pele. Como pois inaugurar em mim agora o pensamento? e talvez só o pensamento me salvasse, tenho medo da paixão.' p. 13.

Terei que ter a coragem de usar um coração desprotegido e de ir falando para o nada e para o ninguém?' p. 13.

Para que eu continue humana meu sacrifício será o de esquecer? (...) Eu vi. Sei que vi porque não dei ao que vi o meu sentido. Sei que vi - porque não entendo. Sei que vi - porque para nada serve o que vi. Escuta, vou ter que falar porque não sei o que fazer de ter vivido. Pior ainda: não quero o que vi. O que vi arrebenta a minha vida diária. Desculpa eu te dar isto, eu bem queria ter visto coisa melhor. (...) Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão(...) Oh pelo menos no começo, só no começo. Logo que puder dispensá-la, irei sozinha.'' p. 15-16.

'Ir para o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha liberdade' p. 16

'É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. (...) Será preciso coragem para fazer o que vou dizer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi e terei de acrescentar: não é isso! não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo? E porque não tenho uma palavra a dizer. (...) Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas. (...) Sinto que uma primeira liberdade está pouco a pouco me tomando. (...) Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética...(...) perdi o medo do feio.' p. 18-19.

'Estou mais cega do que antes. Vi, sim. Vi, e me assustei com a verdade bruta de um mundo cujo maior horror é que ele é tão vivo que, para admitir que estou tão viva quanto ele (...) terei de alçar minha consciência de vida exterior a um ponto de crime contra a minha vida pessoal' p. 20.

'É que um mundo todo vivo tem a força de um Inferno'. p.21.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

No máximo senti um engrandecimento do ego e achei bom. No máximo isso.

da paixão e do amor.

Apaixonar-se é um negócio de outro mundo mesmo. Do nada acontece. Não se planeja por quem ou quando. De repente, paixão. Você simplesmente fica apaixonado, se vê admirado por alguém sem entender direito porque. Apaixonar-se é sentir desejo intenso por alguém incessantemente e como se não mais existissem outras pessoas desejosas. É vontade de estar perto, de fazer tudo junto. É impulso. É vontade de ser o outro. De ser um só com o outro.

E se a paixão é correspondida, que dádiva! É realmente divino poder compartilhar e viver desejo. Dois apaixonados experimentam sensações de muita e intensa felicidade juntos.

A parte muito ruim da paixão é a entrega que o apaixonado faz do seu ser pro outro. Apaixonados admiram muito quem o apaixona, as vezes até sem saber porque, pois nem se conhece muito daquele. E no intento de impressionar, de chamar a atenção e se mostrar interessante, faz questão de se mostrar de um jeito que não é. Há muita anulação de quem se é quando se está apaixonado. O apaixonado se coloca em situações que não deseja somente pra agradar ou estar perto, deixando as coisas que antes lhe importavam em segundo plano. Como se o sentido do mundo e da existência só existisse na presença e aprovação do outro.

Na melhor das sortes o encantamento da paixão dura pra um o mesmo tempo que pro outro e então chega o amor.

Muito melhor que a paixão é o amor. Coisa rara. É quando se tem liberdade de ser quem é diante do outro e se quer construir história junto. Pois com o tempo os apaixonados se conhecem de perto e enxergam o outro com menos coberturas. Se deparam com pessoas de verdade, cheias de qualidades e defeitos, inseguranças, sonhos, experiências de vida... que tem vontades próprias. Cada um passa a ser de novo. E se houver atração física recíproca, não necessariamente constante mas sempre existente, acompanhada da vontade de dividir a vida com alguém a que se tem afinidade, compreensão de mundo e projeto de vida semelhantes e facilidade de comunicação, eita, é o amor.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

aprendiz de carlin

O papel pode até pesar mais que chumbo,
quando nele se fala o que se sente fundo.
Mas conseguir essa proeza de poeta:
de expressar num papel o que se passa na alma,
Traz calma.
...Calma ao leitor que encontra no poema
Sentimento parecido ao que ele mesmo sente
E não consegue transpor ao papel somente
Porque ele ainda ensaia ser bom poeta.